Maíra de Aviz

Maíra de Aviz
-Sou natural de Curitiba (Brasil), e nasci em família de Artistas e Intelectuais – apaixonados pelas artes, pela filosofia, pela política, leitores de tudo, curiosos e questionadores. Minha mãe é artista plástica, meu pai já fez teatro na juventude. Cresci escutando música, indo muito ao cinema, teatro, exposições de arte, museus, isso sempre fez parte do meu cotidiano, assim como viajar pelo Brasil de carro para conhecer a cultura de cada lugar. Um dos meus maiores prazeres, é estar entre eles, falando sobre desejos e nosso estar no mundo – seja com boa comida e um bom vinho, ou na estrada, em viagem para algum lugar que às vezes nem sabemos o destino. Tive um berço e um lar de amor, afeto, liberdade e arte, que construíram muito do que sou hoje. 
-Considero também um lugar muito especial a Escola Anjo da Guarda, onde estudei boa parte da vida – de educação mais voltada à área de humanas, e que tinha na grade curricular muito de artes. Minha história com os palcos começou ainda na infância, aos 10 anos de idade – eu cantava em corais infantis de MPB, já com rotina e a experiência de produções profissionais. Aos 12 anos de idade despertei interesse pelo Teatro, e obtive incentivo a seguir este caminho por parte dos meus professores. 
-Eu era uma criança absolutamente tímida, e – no palco – descobri que podia ser o que eu quisesse. Encontrei ali um lugar em que pude sublimar, expandir as minhas percepções, desenvolver a intuição e a sensibilidade, e através da expressão da criatividade, pude então ressignificar conteúdos emocionais meus. Posso considerar estas vivências absolutamente terapêuticas na minha vida, de amor, prazer, e de “cura”, que me tocaram e continuam tocando fundo à alma. 
-Aos 17 anos, porém, tive a consciência da difícil realidade que é viver de Arte no Brasil. Também notei que meu desejo era realizar projetos artísticos que fossem mais de encontro com a minha essência e com o que desejo comunicar ao mundo, do que somente através de projetos com fins meramente comerciais. 
Decidi buscar outra alternativa, e após pesquisar outras carreiras, optei pela graduação em Psicologia. Ocorreu que me apaixonei pelo curso de Psicologia, e por esta profissão. Descobri em mim uma psicoterapeuta, profissional de saúde – outro lado muito forte da minha personalidade que inclui o desejo pelo cuidado com o ser humano. Trabalhei com pessoas em situações-limite, de doença e muita violência, seja no campo clínico, social ou jurídico, durante toda a minha formação. 
Maíra de Aviz
-O ser humano sempre me foi muito curioso em toda sua dimensão física, psíquica, social e espiritual, com toda sua complexidade. O pulso da vida, do amor, é o que me move em direção tanto ao cuidar, como do criar em projetos artísticos. Busquei variadas experiências que me trouxeram grande bagagem – considero que estas vivências de encontros com pessoas me fizeram, para além do crescimento pessoal, refletir sobre questões sociais e políticas que direcionam o meu pensamento crítico até os dias de hoje. 
Mais tarde, busquei me profissionalizar como Atriz e Dançarina, obtendo registro profissional em 2012 (DRT 26712/PR), e desde então atuo no Teatro, no Cinema, na TV, na Publicidade, na Dança e na Música. 
-Considero ser fundamental para o artista, em especial o ator/atriz, gostar de pessoas, e estar aberto a se conhecer profundamente. Estar com o corpo, a voz e a alma disponíveis para cada novo mergulho, se divertir durante o processo criativo. É preciso empatia pelo ser humano, afinal se o artista julgar o/a personagem, o público consequentemente não irá se aproximar deste. Também acredito ser muito importante um pouco de coragem para encarar as próprias sombras a cada novo personagem, pois 
certamente irá esbarrar em questões próprias, às quais poderá decidir encará-las, ou não. Estudar muito, assistir muitas obras, sejam elas de música, teatro, dança, artes plásticas, cinema, quadrinhos, etc, é muito importante para formar um olhar crítico, e mergulhar em diversos contextos, assim como viajar também, ao conhecer variadas culturas. Todos nós podemos ser artistas, se estivermos dispostos a desenvolver nossa capacidade criativa com profundidade, respeitando também nosso próprio tempo. Há ainda no artista uma necessidade de impor sua voz no mundo, como agente transformador da sociedade. 
-Eu me sinto bastante feliz e realizada quando consigo realizar projetos com os quais me identifico, e com parceiros que compartilham a mesma forma de pensar o mundo e a arte. Na medida do possível, desejo construir uma carreira como atriz em que consiga também conciliar trabalhos no Teatro, no Cinema e na Tv – o teatro é ainda mais familiar para mim, mas o audiovisual tem me encantado muito, e ainda estou adentrando neste novo universo. Houve um momento que considero uma virada em minha carreira artística em minha cidade (Curitiba-PR), em 2013, sendo que a partir daí decidi investir na expansão como atriz, e senti necessidade em me mudar para outros centros que concentram maiores produções artísticas brasileiras, como São Paulo, e agora o Rio de Janeiro. Sinto que atualmente estou em um novo momento de expansão na minha carreira – talvez a nível nacional. Acredito também, que de alguma forma, estando o mundo globalizado, e o mercado diferente em função das novas plataformas de streaming, é favorável esse estrelato mundial para o artista. A fama não é para mim algo que busco como fim – sou artista primeiro, que celebridade -, mas acredito que como consequência de um bom trabalho o estrelato pode acontecer, e ser reconhecido pelo público pode ser muito bom sim. Gosto da idéia que o que faço com o coração, e idéias humanas nas quais acredito, cheguem e possam tocar e transformar muitas pessoas – em qual parte do Brasil, ou do mundo estiverem elas. 
Maíra de Aviz
-Sim, vivemos em uma sociedade patriarcal, e o meio artístico não é diferente, que é mais da metade masculino. Enfrento diariamente o machismo na profissão como atriz: desde cachês mais baixos para mulheres; protagonismos nas obras geralmente masculinos; papéis femininos muito sexualizados e que subjugam a inteligência feminina; cargos de diretores na grande maioria homens; assédio no ambiente de trabalho. Fico feliz com o movimento feminista alcançando novos espaços, estou com elas nessa luta, ainda há muito para conquistar em termos de direitos para as mulheres. 
-Hoje é Março de 2020, e no Brasil estamos vivendo o pior momento em décadas. Muitos direitos conquistados nos últimos anos estão sendo retirados, sobretudo da população mais pobre, e a desigualdade social está a cada dia aumentando. O governo atual extinguiu o antigo Ministério da Cultura, e promove um discurso mentiroso sobre os artistas, aliando uma imagem de corrupção a estes por terem usufruído de leis de incentivo à cultura (Lei Rouanet). O povo, por ignorância, aliado a este discurso do governo, demoniza os artistas, e os persegue boicotando trabalhos, e os atacando nas redes sociais. O investimento em cultura, que já era muito baixo, foi cortado para menos da metade. Tenho vários amigos, que vivem somente da arte, e estão sofrendo muito com isso nesse momento, desempregados, infelizmente. Mas mantenho minha consciência de 
que este é um golpe político com o qual todos sairão perdendo, afinal, sem arte não há beleza, não há saúde, não há educação. Um povo sem arte perde a sensibilidade, a humanidade, se torna mais violento, perde a capacidade crítica do pensar e do questionar -e esta alienação do povo é interessante somente à governos autoritários, que necessitam da sensação do poder e dominação. 
Maíra de Aviz
-Para mim se baseiam muito em uma relação de confiança, geralmente entre o diretor e eu, sem isso o trabalho não acontece. Geralmente peço o roteiro ou dramaturgia anteriormente para ler, sobretudo em produções maiores, e que desconheço os profissionais envolvidos. Já aceitei embarcar em processos diferenciados de criação, sem saber praticamente nada do projeto, e partindo do improviso – sendo que alguns trabalhos também foram interessantes e tiveram resultados potentes. Eu gosto de dizer também que é o trabalho que me escolhe, e não eu que escolho o trabalho. É impressionante como cada projeto me faz aprender algo sobre mim e aquele momento que estou vivendo – recebo sempre como um presente e algo a descobrir. As coisas acontecem na hora que precisam acontecer, a arte é um ritual que mexe com várias esferas inconscientes e de energia. Precisamos saber nossos limites como artistas para não nos machucarmos, e o que estamos dispostos a viver a cada novo processo. Mas geralmente recebo sempre convites e propostas com alegria, amo muito e me doo muito ao que faço. 
-Eu fui convidada para viver uma vilã em uma série que se passa na periferia do Rio de Janeiro, porém obtive a notícia de que a produção dessa série será adiada em função da situação da Covid-19 no Brasil. Ao mesmo tempo, estou desenvolvendo um trabalho autoral para teatro, no qual estou me aventurando pela primeira vez a escrever a dramaturgia. É um texto que aborda temas femininos a partir de histórias de mulheres que atendi durante toda a minha prática clínica como psicóloga nos últimos 10 anos – um trabalho que mexe muito comigo internamente e não vejo a hora de colocá-lo no palco. Ainda, continuo atendendo em consultório como psicóloga muitas pessoas que confiam a mim ajuda – um trabalho pelo qual sou apaixonada e me alimenta a alma todos os dias. Tenho também em paralelo um projeto em Arteterapia, que surgiu em instituições psiquiátricas de Saúde Mental, através do qual trabalho terapêuticamente com grupos de adolescentes da Rede Pública de Ensino, atendidos pelo SESC Rio, através de vivências corporais, do Teatro e da Dança. 
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